7 Ideias a reter sobre Mark Zuckerberg no Congresso dos EUA
Mark Zuckerberg no Congresso dos EUA – com discurso de Miss Mundo
Facebook e a Cambridge Analytica
Bem, vamos por partes: o dono do Facebook, Mark Zuckerberg, foi acusado de ter dado à Cambridge Analytica, acesso a dados de cerca de 87 milhões de contas de Facebook – a maioria deles a viver nos Estados Unidos. Diz-se que com isto, poderá eventualmente ter ajudado a Trump a ganhar as eleições.
A meu ver, há por aí muita gente que ainda não percebeu bem o alcance da coisa. E o grave que isso é! Eu explico e com um exemplo, porque ao que parece que não é a primeira vez que isto acontece, segundo o jornal The Guardian.
Estamos em 2015 e há eleições na Nigéria. Há um vídeo bastante visual, com pessoas a ser queimadas e decapitadas. Enfim: o drama e o horror, com muitas mensagens anti-islâmicas e associadas a um dos candidatos a presidente do país. Resultado? Goodluck Jonathan voltou a ser reeleito e o outro perdeu. Com os dados do Facebook, conseguiram fazer chegar aos apoiantes do candidato da oposição o tal vídeo, fazendo-os mudar de ideias e contribuindo, eventualmente, para a reeleição do anterior presidente!
Numa escala mais pequena pensem que nem é preciso que o Facebook venda os nossos dados à Cambridge Analytica. O Facebook no dia-a-dia usa essa informação para nos fazer chegar anúncios de coisas. Quem trabalha na área e a promover posts no Facebook, sabe que uma das chaves do sucesso passa por segmentar as campanhas – idade, género, gostos, idioma, etc.
E mais o Facebook, como o Google, usam um algoritmo que definem a informação que nos chega! Se pesquisamos sobre Paris, chega-nos informação sobre viagens e hotéis em Paris. Se os nossos amigos gostam todos do novo vídeo da Madonna, nós vamos acabar por ver o vídeo da Madonna.
Agora pensem isto numa escala maior, relativamente à informação que consumimos. Hoje em dia, estamos a ler e a ser bombardeados por informação que vai ao encontro das nossas convicções. Ou seja, se não nos esforçarmos por, já não temos acesso a informação diversa. A tal informação plural que nos permite construir uma opinião informada e fundamentada! E nem vou começar a falar das notícias falsas!
Obviamente que o Mark tem pontos a favor dele. O Facebook é grátis, só está lá quem quer e as pessoas são livres de colocarem a informação que quiserem. E é por isso que o Facebook é tão valioso, porque pela primeira vez, as pessoas colocam TODA a informação sobre elas DE LIVRE VONTADE!
A Internet é um bicho novo, sem regulamentação ou limitações. Significa a isso que podem fazer tudo? Onde fica a responsabilidade da coisa? Se até os maços de cigarros dizem que o tabaco mata, por que é que o Facebook pode ser o rei da inconsequência?
Adiante.
No meio disto tudo, as ações caíram a pique e agora temos Mark Zuckerberg no Congresso dos EUA , para se justificar. Aqui ficam algumas ideias – até agora!
1. Sim, o Facebook deu à Cambridge Analítica informação sobre cerca de 87 milhões de utilizadores.
E sim, muito possivelmente a conta do Mark ia lá no meio. Segundo ele, todos os utilizadores que foram expostos irão ser notificados. Fixe e agora? Assume o erro e a culpa e depois?
2. O Mark é a Miss Mundo
Ouvi-lo é ouvir uma Miss Mundo! Diz que se sentiu enganado, que não esperava que a empresa tivesse feito o que fez. Quando lhe perguntaram se um funcionário do Facebook poderia aceder a informações dos utilizadores, ele respondeu que sim, mas que não o fariam!
Já antes a ONU tinha acusado o Facebook de promover, através dos seus moderadores, discursos de ódio contra a minoria Rohingya no país. O que é que o Mark fez? Defendeu-se com a liberdade de expressão!
3. Regular ou não regular o Facebook? E já agora, a Internet?
Zuckerberg sempre foi anti-regulação. Dizia que isso ia contra a liberdade de expressão. Nunca ninguém percebeu muito bem o sentido da coisa, porque o Facebook censurava mamas, mas não vídeos racistas ou homofóbicos, nem com discursos de ódio explicitos!
Agora diz que sim, sim senhor. Que venha uma regulação, mas bem feita! Seja lá o que isso for!
5. “Senator, we run ads”
É um facto. O Facebook não vende. Ele mostra anúncios. Se o produto é mau ou a comida vem estragada, a culpa não é do Mark. O Facebook sempre se defendeu atrás destas teoria: “somos uma plataforma digital”. Da mesma forma que a Uber não tem taxistas/motoristas, nem táxis ou carros e o Airbnb não possui hotéis! São meras plataformas digitais, mas isso significa que são menos responsáveis! No fundo, são negócios novos, sem legislação competente… e eles (os CEOs das empresas) sabem-no e aproveitam-se disso. Ok, não é fácil legislar, mas também não se tem visto muito esforço nesse sentido!
6. Facebook grates vs Facebook a pagar
Na sessão, Mark Zuckerberg admitiu a possibilidade de no futuro existirem duas versões da rede social. A grátis com anúncios e uma paga, sem eles. O futuro dirá!
7. “Onde dormiste esta noite?”
Um senador perguntou a Mark Zuckerberg na sessão de ontem, se seria seguro ele revelar onde tinha dormido nessa mesma noite. Ele disse que não.
A meu ver, isto resume toda esta história: segurança e privacidade andam de mãos dadas. Poder dizer e ser livre para dizer/fazer algo, não significa que o devamos ou possamos fazer. A todas as nossas ações há consequências associadas, certo? Mas saltar de paraquedas sabendo que podemos morrer é bem diferente de aderir a um serviço, desconhecendo o que daí virá!